quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Escreva um texto de 4000 caracteres que responda à pergunta: quem sou eu e por que escolhi o jornalismo como profissão?

Há alguns meses, decidi não contar para mais ninguém a minha história. Ela é tão longa e cheia de idas e vindas, que possivelmente meu interlocutor vai achar que eu estou mentindo. E eu, muitas vezes, me sinto mentindo, ao falar do que é a mais pura verdade.

A verdade é que em seis anos já morei em seis lugares diferentes, sempre com a vontade de estar em um outro lugar. Em Santa Maria, queria estar em Curitiba. Na Argentina, sabia que na verdade deveria estar em Santa Maria. Em Porto Alegre, queria estar Santa Maria. Em Fraiburgo, queria estar em Curitiba. Agora, em Curitiba, acho que deveria estar em qualquer outro lugar. A única vez que senti que as coisas iam finalmente se ordenar foi em Erechim, mas lá eu fiquei apenas três meses. Quando me questionam sobre as minhas origens, apenas digo que me formei em Santa Maria. Se, com o passar do tempo, a convivência permitir, conto o restante da minha história.

Também omito que iniciei, aos pedaços, outro curso universitário junto com o curso de jornalismo. Não quero ter que ficar dando explicações sobre o curso que já está parado há mais de um ano e que não me trouxe mais do que falta de tempo no final dos semestres, quando as provas das duas carreiras se acumulavam. Não quero admitir que o segundo curso era uma desculpa para eu não adentrar plenamente no jornalismo, que o direito era uma muleta para que eu permanecesse com as minhas eternas dúvidas profissionais e sempre procrastinando uma decisão, que, um dia, deveria ser tomada. E um dia ela foi tomada, mais por prudência e medo que por paixão. Tenho um diploma de jornalista, que se desvaloriza conforme o tempo passa, depois da decisão do STF.

Já nem tento falar sobre um namoro de seis anos, para evitar a incredulidade estampada na cara das pessoas que me ouvem. Também não falo que minha última mudança de endereço foi uma tentativa de ficar mais próxima dele, para que não pensem que sou uma mulher sem razão nem sensibilidade, que direciona sua vida e anula seus sonhos em função de um namorado.

Se falo por alto do meu passado, também resguardo o meu futuro, porque não quero que me julguem de sonhadora, indecisa, insensata, imatura, insegura e todas essas coisas que eu sei que sou, mas acho que só eu mesma posso dizer que sou. Pessoalmente, não estou em um momento legal para fazer planos ou reconstruir sonhos, apesar de saber que o tempo passa, que depois de mim milhares já se formaram e, provavelmente, irão disputar comigo as vagas de trabalho e em programas de pós-graduação que surgirem.

Gosto de moda, de política internacional, de história, de literatura, de cinema, mas não me sinto preparada o suficiente para falar desses assuntos. São poucas as coisas que eu gosto, mas não me despertam paixão suficiente para que eu me aprofunde nelas. Há uma porção de coisas que eu não gosto, como conversar sobre futilidades ou fazer o social em reuniões, mas, infelizmente, são essas as ações que viabilizam o convívio, então, me submeto a elas com um sorriso servil e cor-de-rosa no rosto.

Quanto ao jornalismo, bem, tive os meus momentos de felicidade, mas eu não estava preparada para chegar a um mercado totalmente novo, sem conhecer ninguém que possa dar uma mãozinha ou um direcionamento. Ouvir, de um diretor de jornalismo, que a empresa demitiu 42 pessoas e que não pretende contratar pelos próximos seis meses é frustrante, para não dizer outras coisas. Mesmo com um emprego público garantido, o ápice da estabilidade e sucesso para alguns, ainda não me sinto andando no caminho certo.

Esse texto, na verdade, seria usado em mais uma das minhas tentativas de ingressar em uma empresa de comunicação de grande porte. Eu sei que, um dia, vou fazer as reportagens que eu gosto de ler e assistir na TV e é por isso que eu tenho me esforçado. Acho melhor abrir outra página em branco e começar de novo um outro, menos amargo, menos sincero. Se eu quero um emprego, esse não é o melhor texto para descrever quem eu sou e porque escolhi o jornalismo como profissão, em 4000 caracteres.

Um comentário:

Samantha disse...

Ai, Nai, desculpa, mas tive que comentar esse texto também...como vc já sabe acho que estamos vivendo momentos parecidos. Sei bem o que é estar em um lugar e querer estar em outro, sonhar desde criança em fazer jornalismo e quando se formar decidir que vai fazer um concurso público. E não é por você ter descoberto o que realmente quer da vida. É pura e simplesmente pq o mundo gira, as pessoas ao nosso redor nos cobram, e nós, acima de tudo, nos mortificamos por ainda não sabermos o que realmente queremos.

Até escrevi uma crônica em que criei uma nova teoria, a do mal "Cazuza". Vi no programa dele que ele queria tudo. Eu sofro desse mal. E vc?

PS: Por acaso esse texto não foi para o Curso Abril de Jornalismo? Eu também escrevi...hhehheheeh