quinta-feira, 28 de maio de 2009

A menina que guardava livros ... e tantas outras coisas mais.

Algumas pessoas, quando compram uma nova peça para o guarda-roupa, doam outra que já não é utilizada. Fazem isso para renovar as energias, para dar lugar ao novo. Libertar-se, enfim. Eu raramente faço isso. As roupas que compro, ou que ganho, vão para junto das antigas. Há muitas calças jeans que provavelmente nem me servem mais (os anos passam, os quilos vem...), alguns casacos não são mais usados. As peças, amontoam-se nas prateleiras.

É uma pena, mas é verdade. E esse comportamento não se limita apenas às minhas roupas. Guardo agendas antigas, frascos vazios de perfume, cartas, livros, provas e trabalhos da faculdade. Guardo coisas tão improváveis quanto um pedaço metálico de uma persiana, onde amigos do terceiro ano escreveram alguma coisa que merece ser lembrada. Muitas vezes eles não estão em ordem, mas estão ali, guardados, estáticos, para os casos de necessidade, para o caso de um dia eu querer revê-los.

E assim como guardo coisas, também trago na alma resquícios dos meus anos de vida. Vou guardando afetos, gostos, hábitos, defeitos, mágoas, impressões. Junto cada pedra sentimental que encontro pelo caminho. Mas quanta diferença há em guardar coisas materiais e sentimentos. Os objetos, a gente acessa apenas quando dá vontade, quando abrimos por engano uma gaveta, ou pela curiosidade que gera alguma caixa fechada. O que está na cabeça, na alma, aparece sem ser chamado.

Ultimamente dei para lembrar da época em que eu estava no terceiro ano da faculdade. Com o fim da tarde, volta a sensação de chegar em casa, sentar na sala para comer, descansar e me preparar para ir para a aula. A luz enfraquecida dos últimos raios solares que entrava pela janela da cozinha enchia também a sala, e deixava os fins dos dias de outono aconchegantes. Agora, essas impressões voltam com uma força tremenda. E com elas uma vontade quase infantil que o tempo volte. Talvez porque isso me faça lembrar que naquela época eu me sentia estupenda, plena, e, apesar de viver achando que não, eu era extremamente feliz. Recordo-me bem que, no início da faculdade, eram as sensações da minha vida aqui em Fraiburgo que me deixavam melancólica. Uma forma inútil e inconsciente de tentar parar o tempo.

Andei pensando se tudo isso é realmente necessário, já que essas lembranças, no atual momento, trazem mais dor que alegrias. Talvez já tenha chegado a hora de deixar para trás uma boa parte dessa tralha, seja ela física ou espiritual. Eu sei que não posso negar o meu passado, afinal, foram essas vivências que moldaram o que eu sou hoje. Mas pode ser que elas já estejam pesadas demais para carregar. Acho que está na hora de fazer uma limpeza, enfrentar alguns fantasmas, deixar que muito disso vá embora. Abrir espaço nas prateleiras do tempo para que novas coisas cheguem.

Eu preciso entender, meu Deus, que o que passou não volta mais. E que tem um milhão de coisas novas, boas, brilhantes esperando para acontecer. Mas enquanto eu estiver ocupada demais com as antigas, elas não vão chegar.

Nenhum comentário: