sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cotidiano

Greve dos bancários. O jeito era pagar as contas em uma casa lotérica. Boletos em punho, saí em busca de um lugar onde pudesse efetuar o pagamento.
Na primeira lotérica, não foi possível. Indicaram uma lan-house ali perto.
Na lan-house, uma fila de duas ou três pessoas aguardava. O sistema estava lento. Decidi procurar outro lugar.
Foi aí que lembrei de outra casa lotérica que abriu há pouco tempo, ali por perto. Não custava tentar.
Cheguei lá e o local estava vazio. Maravilha, eu pensei. Não havia atendente no caixa. Esperei um pouco. Fiz barulho para denunciar minha presença. Surgiram, então, duas figuras humanas por detrás de uma parede de madeira. Um homem e uma mulher. Ele tinha cara de motoboy (nada contra a classe, mas vocês sabem do que eu estou falando). Ela estava vestida à la Perigueti.
Olharam para meus tênis, minha roupa de ginástica, meu cabelo preso e minha cara de quem não entende nada, nada, nada de todas as coisas que eles sabiam. Parecia que olhavam um E.T.
Pedi para fazer o pagamento e o moço me informou que ali eles não efetuavam essa operação.
- Mas por quê? – a pergunta mais inocente e idiota que eu fiz na vida.
- Por que – falou o moço, baixinho, um pouco irritado com a minha falta de experiência nessas coisas – essa é uma loteria global. A gente não faz pagamento. Aqui a gente faz o Jogo do Bicho.
Queria poder voltar no tempo só para poder ver a minha cara. Espanto, só pode ter sido isso mesmo. No meu imaginário de moça do interior, o Jogo do Bicho só era feito em lugares suspeitíssimos, como os fundos de uma loja de fachada em uma periferia qualquer. Mas não ali, em uma rua movimentada, em plena luz do dia.
Saí e voltei para a lan-house, que se encontrava vazia e com o sistema miraculosamente normal. Foi só aí que aprendi o real sentido daquela frase antiga: em boca fechada não entra mosca.

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