quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O amor mais lindo do mundo

Pode parecer que não, mas por trás de toda essa imagem que às vezes passo (ou acho que passo) de mulher forte e independente, existe uma outra, a romântica. As damas de ferro também gostam de histórias e cenas de amor. Mas, ao contrário das mocinhas delicadas – a maioria das mulheres, diga-se de passagem - que acreditam que um relacionamento amoroso é a única maneira de realização pessoal, eu encaro o amor com olhos mais realistas, e também mais bondosos.

Para início de conversa, acho que qualquer tipo de amor vale a pena. Não importa a idade, o nível cultural, a cor, o sexo dos envolvidos. Acho que qualquer relação onde haja um mínimo de respeito à liberdade e integridade do outro, onde se queira crescer lado-a-lado, é uma relação digna de ser considerada bela.

Irrita-me essa idéia de que existem relações perfeitas e pessoas eleitas para vivê-las. Intriga-me o que se chama de “um casamento feliz”, celebrado por duas pessoas de sexo distinto, belas, jovens, bem-sucedidas, bem-relacionadas, sorridentes, meigas, puras, castas, exemplos de filhos e cidadãos. Se você e o seu querido não tem uma das qualidades acima, esqueça. O seu não é, ou não será, um relacionamento digno de aplausos da família, dos amigos, da sociedade.

Você provavelmente acha que isso não existe. Que esse texto é pura inveja e que eu devo ser mesmo uma mal-amada para estar escrevendo essas coisas. Mas eu te desafio a analisar com frieza um único exemplo para que você me cubra de razão. Ligue a TV por algumas horas e veja quem são os protagonistas das mais belas paixões e como eles agem. Depois é só comparar com os casos da vida real para ver que eu não estou exagerando. Para a maioria das pessoas, o amor só é belo quando segue uma fórmula. O resto é pura necessidade. Eles só ficaram juntos porque não encontrariam mais ninguém e ponto final.

Para mim, todas as histórias de amor são belas. E quanto menos óbvias, melhor. Não cabe a ninguém julgar, nem para o bem, nem para o mal. O que eu espero mesmo é que um dia, não importa o dia, todos possam viver as suas histórias de amor e ver que nesse campo não se pode enquadrar e buscar um padrão. O padrão simplesmente não existe.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Texto antigo também vale?

Ok, aí vai.

QUASE FIM.
(14.09.2006)

Ontem, a turma do quinto semestre de jornalismo da UFSM saiu pela última vez dos estúdios da Rádio Universidade como alunos das disciplinas de radiojornalismo. Foram quatro semestres de entrevistas, leituras e muito nervosismo na produção dos programas integrantes do projeto Radio Escola. Eu sou uma pessoa naturalmente saudosista. Não no sentido de que viva o meu passado com mais intensidade que meu presente, ou que viva achando que ‘os tempos de antes eram melhores’. Mas eu gosto de lembrar do que fiz em anos anteriores. De ver que já não é possível resumir minha vida em uma única ‘pensada’, de ver que não se pode ter controle sobre tudo.

Ontem eu não estava sentindo o que comecei a sentir hoje, e que será, provavelmente, o que irei sentir por um bom tempo. Ontem eu não entendia claramente o que significava terminar as aulas de radiojornalismo. Era como se meu pensamento estivesse suspenso, fora do ar. Hoje eu me dei conta. O dia de ontem significou muito mais que o final das aulas de rádio, indicam também que um ciclo bem maior e complexo também está para se fechar, meu tempo na universidade. É uma espécie de sub-final. Em três semestres estarei formada. E isso mais me assusta que alegra.

Saímos para comemorar no dia de ontem. E ontem mesmo me recriminaram por usar a palavra comemoração, pois dá a impressão de que eu comemorava o fim de algo horrível. Mas vou usar a palavra comemorar. Comemorar uma etapa vencida, comemorar o sentimento confortante de estar com a turma. Comemorar as pequenas coisas boas da vida.

Pedimos pastéis e refrigerantes, e devido a nossa fome, quase ninguém falou durante a janta. Já era tarde quando terminamos o jantar, de modo que muitos já pensavam em ir embora. O primeiro a sair foi o professor. Após pagar seu pastel e o refrigerante que tinha dividido com alguns alunos, ele pegou a sua maleta, seus três guarda-chuvas e atravessou a sala. Ao passar pelos alunos, dirigia seu olhar e dava um tchau, desejava uma noite boa. Foi uma despedida breve, sem floreios, mas duvido que tenha sido uma despedida comum. Tenho certeza que todos sentiram alguma coisa quando viram aquele homem e atravessar a porta sem se virar para trás. Ao menos um nozinho, um aperto na garganta ou no peito os alunos sentiram. Aquela despedida simbolizava que, definitivamente, tínhamos vencido essa etapa. Foi o início do final do nosso curso universitário.

Vamos topar com o professor pelos corredores da universidade, alguns de nós continuará a ter contato com o radiojornalismo e seus encantos (seriam mistérios?), mas nós já não somos os mesmos, deixamos um pedaço de nossa existência nos corredores da rádio, e levamos na mente as recordações dos estúdios, das entrevistas, dos debates, mesas-redondas, problematizações de pautas, contatos com entrevistados. Levaremos no coração os sufocos de ser editor ou mediador do ‘Na boca do monte’ ou do ‘Rádio Ativo’ e o nervosismo da nossa estréia no ‘Diálogos Possíveis’. O rádio foi nosso debut no jornalismo.

A noite terminou com mais despedidas leves, com uma noite um pouco fria, com um rápido caminhar para casa e com o estômago pesado de tanto comer. Cheguei em casa e fiquei acordada por um bom tempo. Precisava digerir (com o perdão da palavra) toda essa situação que eu começava a me dar conta.

Como já disse, sou saudosista. Incurável. E as aulas de rádio vão entrar no meu nada seleto hall de lembranças. Como o tempo em que era tudo ou nada quando a caixinha vermelha fixada na parede do estúdio acendia e nos dizia ‘NO AR’.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cotidiano

Greve dos bancários. O jeito era pagar as contas em uma casa lotérica. Boletos em punho, saí em busca de um lugar onde pudesse efetuar o pagamento.
Na primeira lotérica, não foi possível. Indicaram uma lan-house ali perto.
Na lan-house, uma fila de duas ou três pessoas aguardava. O sistema estava lento. Decidi procurar outro lugar.
Foi aí que lembrei de outra casa lotérica que abriu há pouco tempo, ali por perto. Não custava tentar.
Cheguei lá e o local estava vazio. Maravilha, eu pensei. Não havia atendente no caixa. Esperei um pouco. Fiz barulho para denunciar minha presença. Surgiram, então, duas figuras humanas por detrás de uma parede de madeira. Um homem e uma mulher. Ele tinha cara de motoboy (nada contra a classe, mas vocês sabem do que eu estou falando). Ela estava vestida à la Perigueti.
Olharam para meus tênis, minha roupa de ginástica, meu cabelo preso e minha cara de quem não entende nada, nada, nada de todas as coisas que eles sabiam. Parecia que olhavam um E.T.
Pedi para fazer o pagamento e o moço me informou que ali eles não efetuavam essa operação.
- Mas por quê? – a pergunta mais inocente e idiota que eu fiz na vida.
- Por que – falou o moço, baixinho, um pouco irritado com a minha falta de experiência nessas coisas – essa é uma loteria global. A gente não faz pagamento. Aqui a gente faz o Jogo do Bicho.
Queria poder voltar no tempo só para poder ver a minha cara. Espanto, só pode ter sido isso mesmo. No meu imaginário de moça do interior, o Jogo do Bicho só era feito em lugares suspeitíssimos, como os fundos de uma loja de fachada em uma periferia qualquer. Mas não ali, em uma rua movimentada, em plena luz do dia.
Saí e voltei para a lan-house, que se encontrava vazia e com o sistema miraculosamente normal. Foi só aí que aprendi o real sentido daquela frase antiga: em boca fechada não entra mosca.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Adeus

Um dia ela bateu na minha porta e eu deixei que entrasse, sem nem mesmo perguntar quem era. Sem cerimônias, mudou-se de mala e cuia para minha casa e minha vida. No começo, causou alguma estranheza, mas aos poucos fui me afeiçoando. Confesso que só a deixei ficar porque gostei muito da sua presença. Foi nos seus braços que meus medos pareceram aceitáveis e que minhas frustrações foram encaradas como coisa normal. Seu colo era como um ninho, onde eu podia encontrar justificavas para tudo o que estava dando errado.

O problema é que ela começou a tomar conta de todas as minhas ações e pensamentos. Controladora e ciumenta, não me deixava quieta por um minuto. Queria saber de tudo e imprimir em qualquer um dos meus momentos suas marcas acinzentadas. Tratava-me como uma propriedade e nossa relação, como todas em que há algum tipo de dependência, começou a se tornar sufocante.

Um dia, decidi dar um basta nessa situação. Cheguei em casa e aproveitei um momento de distração para jogar as suas coisas pela janela. Ela fez cena, gritou, chorou, falou que sem ela eu não viveria, pois eu já estava muito acostumada. Disse que se mataria. Depois disse que me mataria. Por fim, acabou cedendo.

Agora, nos falamos muito pouco. Ela ainda vive por aqui, me espreitando pelos cantos, mas eu já dei meu ultimato. Ela vai embora. E no dia que essa tristeza for de vez, darei uma festa daquelas. Vou dançar e cantar até o sol nascer e vou viver os dias mais lindos da minha vida.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Escreva um texto de 4000 caracteres que responda à pergunta: quem sou eu e por que escolhi o jornalismo como profissão?

Há alguns meses, decidi não contar para mais ninguém a minha história. Ela é tão longa e cheia de idas e vindas, que possivelmente meu interlocutor vai achar que eu estou mentindo. E eu, muitas vezes, me sinto mentindo, ao falar do que é a mais pura verdade.

A verdade é que em seis anos já morei em seis lugares diferentes, sempre com a vontade de estar em um outro lugar. Em Santa Maria, queria estar em Curitiba. Na Argentina, sabia que na verdade deveria estar em Santa Maria. Em Porto Alegre, queria estar Santa Maria. Em Fraiburgo, queria estar em Curitiba. Agora, em Curitiba, acho que deveria estar em qualquer outro lugar. A única vez que senti que as coisas iam finalmente se ordenar foi em Erechim, mas lá eu fiquei apenas três meses. Quando me questionam sobre as minhas origens, apenas digo que me formei em Santa Maria. Se, com o passar do tempo, a convivência permitir, conto o restante da minha história.

Também omito que iniciei, aos pedaços, outro curso universitário junto com o curso de jornalismo. Não quero ter que ficar dando explicações sobre o curso que já está parado há mais de um ano e que não me trouxe mais do que falta de tempo no final dos semestres, quando as provas das duas carreiras se acumulavam. Não quero admitir que o segundo curso era uma desculpa para eu não adentrar plenamente no jornalismo, que o direito era uma muleta para que eu permanecesse com as minhas eternas dúvidas profissionais e sempre procrastinando uma decisão, que, um dia, deveria ser tomada. E um dia ela foi tomada, mais por prudência e medo que por paixão. Tenho um diploma de jornalista, que se desvaloriza conforme o tempo passa, depois da decisão do STF.

Já nem tento falar sobre um namoro de seis anos, para evitar a incredulidade estampada na cara das pessoas que me ouvem. Também não falo que minha última mudança de endereço foi uma tentativa de ficar mais próxima dele, para que não pensem que sou uma mulher sem razão nem sensibilidade, que direciona sua vida e anula seus sonhos em função de um namorado.

Se falo por alto do meu passado, também resguardo o meu futuro, porque não quero que me julguem de sonhadora, indecisa, insensata, imatura, insegura e todas essas coisas que eu sei que sou, mas acho que só eu mesma posso dizer que sou. Pessoalmente, não estou em um momento legal para fazer planos ou reconstruir sonhos, apesar de saber que o tempo passa, que depois de mim milhares já se formaram e, provavelmente, irão disputar comigo as vagas de trabalho e em programas de pós-graduação que surgirem.

Gosto de moda, de política internacional, de história, de literatura, de cinema, mas não me sinto preparada o suficiente para falar desses assuntos. São poucas as coisas que eu gosto, mas não me despertam paixão suficiente para que eu me aprofunde nelas. Há uma porção de coisas que eu não gosto, como conversar sobre futilidades ou fazer o social em reuniões, mas, infelizmente, são essas as ações que viabilizam o convívio, então, me submeto a elas com um sorriso servil e cor-de-rosa no rosto.

Quanto ao jornalismo, bem, tive os meus momentos de felicidade, mas eu não estava preparada para chegar a um mercado totalmente novo, sem conhecer ninguém que possa dar uma mãozinha ou um direcionamento. Ouvir, de um diretor de jornalismo, que a empresa demitiu 42 pessoas e que não pretende contratar pelos próximos seis meses é frustrante, para não dizer outras coisas. Mesmo com um emprego público garantido, o ápice da estabilidade e sucesso para alguns, ainda não me sinto andando no caminho certo.

Esse texto, na verdade, seria usado em mais uma das minhas tentativas de ingressar em uma empresa de comunicação de grande porte. Eu sei que, um dia, vou fazer as reportagens que eu gosto de ler e assistir na TV e é por isso que eu tenho me esforçado. Acho melhor abrir outra página em branco e começar de novo um outro, menos amargo, menos sincero. Se eu quero um emprego, esse não é o melhor texto para descrever quem eu sou e porque escolhi o jornalismo como profissão, em 4000 caracteres.