terça-feira, 20 de outubro de 2009

Texto antigo também vale?

Ok, aí vai.

QUASE FIM.
(14.09.2006)

Ontem, a turma do quinto semestre de jornalismo da UFSM saiu pela última vez dos estúdios da Rádio Universidade como alunos das disciplinas de radiojornalismo. Foram quatro semestres de entrevistas, leituras e muito nervosismo na produção dos programas integrantes do projeto Radio Escola. Eu sou uma pessoa naturalmente saudosista. Não no sentido de que viva o meu passado com mais intensidade que meu presente, ou que viva achando que ‘os tempos de antes eram melhores’. Mas eu gosto de lembrar do que fiz em anos anteriores. De ver que já não é possível resumir minha vida em uma única ‘pensada’, de ver que não se pode ter controle sobre tudo.

Ontem eu não estava sentindo o que comecei a sentir hoje, e que será, provavelmente, o que irei sentir por um bom tempo. Ontem eu não entendia claramente o que significava terminar as aulas de radiojornalismo. Era como se meu pensamento estivesse suspenso, fora do ar. Hoje eu me dei conta. O dia de ontem significou muito mais que o final das aulas de rádio, indicam também que um ciclo bem maior e complexo também está para se fechar, meu tempo na universidade. É uma espécie de sub-final. Em três semestres estarei formada. E isso mais me assusta que alegra.

Saímos para comemorar no dia de ontem. E ontem mesmo me recriminaram por usar a palavra comemoração, pois dá a impressão de que eu comemorava o fim de algo horrível. Mas vou usar a palavra comemorar. Comemorar uma etapa vencida, comemorar o sentimento confortante de estar com a turma. Comemorar as pequenas coisas boas da vida.

Pedimos pastéis e refrigerantes, e devido a nossa fome, quase ninguém falou durante a janta. Já era tarde quando terminamos o jantar, de modo que muitos já pensavam em ir embora. O primeiro a sair foi o professor. Após pagar seu pastel e o refrigerante que tinha dividido com alguns alunos, ele pegou a sua maleta, seus três guarda-chuvas e atravessou a sala. Ao passar pelos alunos, dirigia seu olhar e dava um tchau, desejava uma noite boa. Foi uma despedida breve, sem floreios, mas duvido que tenha sido uma despedida comum. Tenho certeza que todos sentiram alguma coisa quando viram aquele homem e atravessar a porta sem se virar para trás. Ao menos um nozinho, um aperto na garganta ou no peito os alunos sentiram. Aquela despedida simbolizava que, definitivamente, tínhamos vencido essa etapa. Foi o início do final do nosso curso universitário.

Vamos topar com o professor pelos corredores da universidade, alguns de nós continuará a ter contato com o radiojornalismo e seus encantos (seriam mistérios?), mas nós já não somos os mesmos, deixamos um pedaço de nossa existência nos corredores da rádio, e levamos na mente as recordações dos estúdios, das entrevistas, dos debates, mesas-redondas, problematizações de pautas, contatos com entrevistados. Levaremos no coração os sufocos de ser editor ou mediador do ‘Na boca do monte’ ou do ‘Rádio Ativo’ e o nervosismo da nossa estréia no ‘Diálogos Possíveis’. O rádio foi nosso debut no jornalismo.

A noite terminou com mais despedidas leves, com uma noite um pouco fria, com um rápido caminhar para casa e com o estômago pesado de tanto comer. Cheguei em casa e fiquei acordada por um bom tempo. Precisava digerir (com o perdão da palavra) toda essa situação que eu começava a me dar conta.

Como já disse, sou saudosista. Incurável. E as aulas de rádio vão entrar no meu nada seleto hall de lembranças. Como o tempo em que era tudo ou nada quando a caixinha vermelha fixada na parede do estúdio acendia e nos dizia ‘NO AR’.

Um comentário:

Samantha disse...

Veja só, Nai! Começo a ler tua crônica e no computador começa a tocar a música "Forever Young". Me arrepiei...pelas lembranças que você trouxe de maneira tão delicada!

Saudade! Das aulas, do nosso querido porfessor, dos nossos amados colegas. Mas, principalmente, saudade dos nossos corações de estudantes de jornalismo...cheios de sonhos!

É certo que ainda sonhamos, e como!

Mas aqueles sonhos, daquele tempo, tinham um brilho, uma ingenuidade, uma "juventude"...Saudades daqueles sonhos!